quinta-feira, 30 de agosto de 2012

(Re)descobrir-se


Lola, como todos, tinha seus sonhos, e com eles seus medos envoltos pelo sua fraqueza: decepcionar pessoas. Sim, ela temia, sequer pensar, que algum dia viesse a ser a decepção de alguém. E em seu quarto, o lugar que se sentia segura, viajava por todos os lugares possíveis e impossíveis, revisitada histórias, inventava estórias, conhecia pessoas, fazia lindos discursos e era a inspiração de muitos. E era ali também que enfrentava suas piores dores, a decepção do fracasso, a agonia da incerteza, o medo que persistia sobre a esperança. E os dias foram passando, Lola cresceu e não mudou nada nesse aspecto, e conforme os dias foram acontecendo ela se via cada vez mais perto de realizar um dos seus sonhos, e isso a completava. Era motivo de orgulho, pelo menos para seus pais, mas era.
(...)
Lola, sempre se preocupou em não decepcionar as pessoas, e de pouco em pouco foi decepcionando a si mesma. Chegou uma hora em que não aguentava mais a visão que o espelho lhe trazia, com tanta coisa mal feita na sua vida. E mesmo fazendo o seu, possível, melhor, ela viu que não era suficiente para agradar as pessoas. O mundo “lá fora” era muito exigente. E assim seu maior medo se realizou, mas ao contrário, as pessoas é que a decepcionaram. E no caminho da realização de seu sonho ela viu que era muito mais complexo do que o simples “lutar, lutar e no fim conseguir”, dependia de pessoas, e essas, não se importavam tanto quanto ela. Foi então que Lola percebeu, que era movida pelos sonhos e não pelas realizações.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Cicatrizar!


Marcas são o que restaram. Marcas de um passado bom. Marcas da “raia” da bicicleta onde enfiei meu pé inúmeras vezes enquanto estava na garupa. Marcas da velha bicicleta rosa, e de como me senti ao dar a primeira volta sem as rodinhas, um grito por liberdade. Marcas do antigo número xx, do pé de amora, seringuela, acerola e ameixa. Marcas da Rua Duque de Caxias, onde aprendi a contar as “primeiras” mentiras. Marcas das salas de catequese, do salão paroquial, dos ensaios e apresentações, e das ajudas nos casamentos. Marcas do primeiro beijo, primeiro “amor” e primeira “desilusão” também. Marcas daquele doce caseiro, do cheiro de naftalina que casa de avó tem. Marcas das brigas entre primas. Marcas do vôlei, da bets, do “golzinho”, do duro ou mole (americano ou não), pega-pega e esconde-esconde. Marcas do primeiro vídeo-game. Marcas da antiga escola, do papel higiênico no teto, das estrelinhas e da foto 3x4 que todo ano tirávamos. Marcas da sorveteria na esquina e da locadora ao lado. Marcas do que se foi e por agora não voltará. Marcas que jamais irão se cicatrizar. Marcas, que mesmo parecendo “insignificantes pra alguns” são meu alicerce. Marcas, que me mostram dia a dia quem eu sou, e que me motivam a continuar (...).